Dia 15 de novembro de 2019, data fatídica: bem na parte frontal de minha cabeça encontrava-se meu primeiro fio de cabelo branco. Estava confirmado: envelhecia!
A síndrome de Peter Pan sempre me perturbou: eu não queria usar sutiã, eu não queria menstruar, eu não queria doar meus brinquedos, eu não queria crescer! Ainda por cima, pedia esse milagre pra minha mãe:
- Mãe, eu não quero crescer!!!
- Tá bom, vou pedir pro pediatra te prescrever um remedinho pra tu ser criança pra sempre...
Ela levava na brincadeira, mas, pra mim, esse sempre foi um caso seríssimo.
Porém, agora, eu estava aqui refletindo, enquanto tomava um café: será mesmo que eu não queria crescer ou será que foi o contrário? Pois eu fico com a segunda opção. Ou seja, na realidade, o que ocorria/ocorre é uma frustrante tentativa de me segurar à infância - ou ao início - que me distancio, assim, resistia/resisto aos símbolos do crescimento. Isso explica porque enquanto escrevo esse texto, volta e meia, faço massagem facial, a fim de brigar com as duas - malditas e insistentes - rugas entre minhas sobrancelhas. Então, partindo dessa ideia, me dou conta de que uso esse sistema de proteção para me fazer esquecer que estou de saída desde a minha chegada.
Posso dizer que sempre fui madura, adulta, e até um pouco idosa, dentro da criança que eu era. Só que agora eu sou um pouco criança dentro da adulta que sou. Como as bonecas matrioshkas, eu sou um monte de versões de mim dentro de mim mesma.
Por isso eu estou pensando no seguinte: será que eu já cresci? Será que não é a minha criança envelhecendo ou minha adulta morrendo? Não sei. Mas essa organizada bagunça que sou está entendendo que os ciclos existem, são reais, e que meu corpo físico também é um deles. Por isso, eu escolho andar nesta roda gigante que sobe bem devagarinho - ainda bem-, aproveitando a vista e torcendo pro controlador não acelerar a descida.
Carpe diem!