terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Nome no material escolar




 Passeando pelo centro dia desses, parei frente à vitrine de uma papelaria e me chamou atenção uma placa que dizia algo do tipo “Etiquetas personalizadas aqui”. A frase fazia menção aos exemplos que também se encontravam na vitrine, ao lado da placa, duas folhas e a primeira era assim, escrito em azul:
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P. Kauã P.
 A segunda, igual, só que algum outro nome, de menina e escrito em rosa.
 Cada repetição de nome naquelas folhas eram um adesivo. A intenção era facilitar a vida dos papais e que eles comprassem o nome de seus filhos em série, confeccionados de modo prático, virtual e padronizado. Que baita ideia não? Num mundo com tanta comida congelada, quantas facilidades e mais essa agora!! Genial.
 Não. Tem coisa que não dá pra simplificar.
           Eu entrei na escola com 5 anos de idade e com certeza até os 10 minha mãe colocava  nome em cada partícula do meu material escolar. Ela escrevia com a própria letra dezenas de vezes o meu nome numa folha de caderno, depois recortava um por um e os prendia com fita durex, em cada lápis de cor, canetinha, potinhos de tinta guache, apontador, etc. Por motivos óbvios, os únicos que se salvavam da marcação, eram as massinhas de modelar e os gizes de cera. E eu achava aquilo o máximo, porque depois disso, tudo aquilo era meu de verdade. Aquelas etiquetas caseiras eram como escrituras do material escolar, tornando-o sagrado. Eu os zelava com dedicação, eram de minha total responsabilidade e até pouco tempo atrás eu ainda tinha um lápis ou outro com meu nome escrito com a letra da minha mãe. Isso pra mim sempre significou carinho.
           Quando eu tiver filhos, mesmo que a vida se torne ainda mais corrida e tudo tenha que ser prático e rápido, vou parar, e colocar nome em todo o material escolar deles. Porque é esse tipo de valor que eu quero repassar na minha família.





terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O raro balançar de rede




Quando a situação em volta te exige maturidade, tu abandona teu lado emocional por tempo indeterminado. É assim que começamos a nos deixar sempre pra depois e entramos no modo automático, até o dia da pergunta: pera, o que é que eu tô fazendo aqui?
Refiro-me a situações do tipo que eu vivi, por exemplo: ter que decidir sua profissão aos 14 anos; ter que conseguir um emprego logo, pois tem que ajudar nas despesas da casa; ter que se interessar por assuntos que não tem o menor sentido pra ti e ainda ter que ser boa nisso. Essas batalhas mentais entre o que deve ser feito e o que tu gostaria de fazer, é o que nos faz crescer e é também o que nos faz morrer. Ainda bem que a vida dá uma trégua às vezes e a gente pode ressuscitar um pouco.
Cada um de nós possui os próprios desejos e tem o livre arbítrio para escolher, só que, muitas vezes, temos que amordaçar os gritos de protesto dentro de nós e agir da forma que se deve, da forma que a vida pede. Então a gente se sufoca e morre um pouquinho, toda vez que a gente não faz o que gostaria. Óbvio que a vida não é um morango, mas, como eu disse, às vezes dá pra relaxar e é nessa hora que temos que botar o coração pra voltar a bater.
No meu caso, a parte boa é que, eu não sabia o que eu queria, apenas o que eu deveria, portanto, foi fácil para mim só viver boiando nas ondas do mar e fazendo o que me destinavam. Falo de oportunidades, aquelas que tu pensa: como que eu não vou aceitar isso? Que sorte a minha! – e tu aceita, como se tu tivesse que te agarrar a todas as sortes que te aparecem.
Graças aos céus, passamos por momentos que se assemelham ao balançar devagarinho de uma rede. Momentos de paz, de sustentação. Não é preciso decidir nada às pressas, não é preciso se cobrar tanto, nem aceitar todos os golpes de sorte. Onde é permitido dormir e sonhar, planejar recomeços, respirar, dizer não, olhar pra dentro e ouvir-se. E aí a gente renova a alma, armando-se para os novos desafios, que nós mesmos optamos.
É tudo muito bonito na teoria, mas, infelizmente, temos que experimentar para saber o que se queremos e, mesmo assim, vamos mudar de ideia umas 2.856 vezes até o final da vida. Afinal, isso faz parte do nosso autoconhecimento e evolução. Mas te deixo a dica: sempre que puder, não te deixe pra depois.