terça-feira, 24 de janeiro de 2017

O raro balançar de rede




Quando a situação em volta te exige maturidade, tu abandona teu lado emocional por tempo indeterminado. É assim que começamos a nos deixar sempre pra depois e entramos no modo automático, até o dia da pergunta: pera, o que é que eu tô fazendo aqui?
Refiro-me a situações do tipo que eu vivi, por exemplo: ter que decidir sua profissão aos 14 anos; ter que conseguir um emprego logo, pois tem que ajudar nas despesas da casa; ter que se interessar por assuntos que não tem o menor sentido pra ti e ainda ter que ser boa nisso. Essas batalhas mentais entre o que deve ser feito e o que tu gostaria de fazer, é o que nos faz crescer e é também o que nos faz morrer. Ainda bem que a vida dá uma trégua às vezes e a gente pode ressuscitar um pouco.
Cada um de nós possui os próprios desejos e tem o livre arbítrio para escolher, só que, muitas vezes, temos que amordaçar os gritos de protesto dentro de nós e agir da forma que se deve, da forma que a vida pede. Então a gente se sufoca e morre um pouquinho, toda vez que a gente não faz o que gostaria. Óbvio que a vida não é um morango, mas, como eu disse, às vezes dá pra relaxar e é nessa hora que temos que botar o coração pra voltar a bater.
No meu caso, a parte boa é que, eu não sabia o que eu queria, apenas o que eu deveria, portanto, foi fácil para mim só viver boiando nas ondas do mar e fazendo o que me destinavam. Falo de oportunidades, aquelas que tu pensa: como que eu não vou aceitar isso? Que sorte a minha! – e tu aceita, como se tu tivesse que te agarrar a todas as sortes que te aparecem.
Graças aos céus, passamos por momentos que se assemelham ao balançar devagarinho de uma rede. Momentos de paz, de sustentação. Não é preciso decidir nada às pressas, não é preciso se cobrar tanto, nem aceitar todos os golpes de sorte. Onde é permitido dormir e sonhar, planejar recomeços, respirar, dizer não, olhar pra dentro e ouvir-se. E aí a gente renova a alma, armando-se para os novos desafios, que nós mesmos optamos.
É tudo muito bonito na teoria, mas, infelizmente, temos que experimentar para saber o que se queremos e, mesmo assim, vamos mudar de ideia umas 2.856 vezes até o final da vida. Afinal, isso faz parte do nosso autoconhecimento e evolução. Mas te deixo a dica: sempre que puder, não te deixe pra depois.